E acontecia isto: ele, dia após dia, estava nos corredores da Unidade (ou aguardando nos salões de espera). Era uma homem alto, de olhar distante e sempre vestindo, alternadamente, uma das partes do pijama; quase caricato. Difícil não o notar... mesmo em um ambiente diverso e turbulento como o da UBS.
Para falar a verdade, nunca o consultei. Esporadicamente trocava alguns gestos de bom-dia... mas estou convicto que todos nesta UBS sabem o seu nome. Pessoa boa, daquelas que merecem uma atenção especial. Parece-me que sofria de alguma doença psiquiátrica, mas se encontrava controlado através de medicações. A única coisa que a medicação não controlava - nem havia a necessidade - era a admiração e o carinho que ele tinha pela médica que o tratava. Sempre se sentia contrariado ao ter que consultar qualquer outro médico. Diariamente, por alguma razão, ele estava lá. Já fazia parte da nossa UBS. Tinha se tornado parte do ambiente, como qualquer um dos funcionários ou um quadro pendurado na parede.
Nunca entendi completamente a razão que o impelia a vir de segunda a sexta (quiçá também aos sábados) à Unidade, considerando que raramente consultava. Seria a esperança de alguma cura completa para sua patologia? Ou a esperança de encontrar a admirada médica que já não trabalha nesta UBS? Seria para se sentir normal meio a tantos outros pacientes?
Não sei. Talvez não. A resposta mais razoável, creio eu, é a de que ele vinha para completar sua rotina. Aqui, ele se sentia em casa. Aqui, todos o queriam ajudar e sabiam de sua doença. Aqui eram seus amigos, sua família, seu lar... onde resgatava sua dignidade humana e encontrava sua identidade.
Aqui, ao vagar anônimo, todos sabiam o seu nome.
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