quinta-feira, 11 de agosto de 2011

A História De Um Cigarro

Essa me ocorreu quando uma paciente, daquelas roucas e tossidoras crônicas, percebeu que havia perdido sua carteira de cigarro em meu consultório...
- Tava novinha Doutor! E meu Deus, perdi também a minha carteirinha...
Mais que depressa emendei:
- QUE BOM! Que bom que a senhora perdeu essa porcaria! E se eu achar vou jogar fora!!!
Fiz sua receita, despedi-me e ainda insisti na idéia da abstinência do tabagismo. Ela se foi um tanto aflita, mas conformada.
Quando fui examinar o paciente seguinte, encontrei o bendito maço orfão em cima da maca. Mas a grande ironia do fato é que anexada à carteira de cigarro estava a carteira do SUS, dentro daquele plástico que envolve os maços e escondendo aquelas imagens assustadoras de enfisema, câncer e aborto. Se fosse artista, pincelaria um quadro do conceito.
Então, um conflito relâmpago acendeu em minha mente: "Entregar ou não a carteira de cigarro? Que tal entregar somente a carteira do SUS?". Argumentos éticos, morais e de saúde se degladiaram em mim durante alguns milésimos de segundo... e como o livre-arbítrio é o bem-supremo da humanidade, decidi entregar seus cigarros.
Ao ir ao hall da UBS encontrei a paciente, meio frustrada, procurando nos cantos o objeto de seu vício - cercada de tantos outros pacientes.
Meio hesitante, parecendo um contrabandista, dei sua carteira de cigarro grudada à carteira do SUS. Não, certamente não poderia deixar de falar algo... Afinal, o que os outros pacientes haveriam de pensar??? "Estaria o doutor incentivando o tabagismo? Que tipo de médico é esse?"
Aí, pensei rápido e falei em alto e bom som pra que todos escutassem:
"Minha senhora: aqui está a sua carteira de cigarro... E aqui está o seu cartão do SUS. Um dos dois a senhora vai ter que jogar fora! Pense bem."
E saí vitorioso

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