quinta-feira, 30 de agosto de 2012

A carta



(...)
- Olá, como vai?
- Nada bem, doutor, nada bem. Meu corpo todo dói, durmo mal. Os dedos formigam, os braços agulham. Cansada, muito cansada. Irritada, aflita, ansiosa. Desanimada. A alma se foi.
- Mas senhora, a senhora tem praticado atividade física? Alimentação saudável? Tempo livre para o lazer?
- Estes sapatos baixos caminham do trabalho-ponto, ponto-casa. Sustento o lar, limpo a cozinha. 2 filhos descuidados, um marido sumido. E o pior: ninguém quer me dar a carta.
- Que carta, senhora? INSS?
- Alforria.
(E limpa suas mãos calejadas de graxa e suor)